O que procura?

Licenciatura em psicologia, admissões…

Admissões:
Geral:
Campus Quinta do Bom Nome: +351 210 309 900
Campus Santos: +351 213 939 600
Campus Lispólis: +351 210 533 820
Whatsapp
Presencial: +351969704048
18 jan 2023

A arte do elogio

Edited on 18 Jan. 2023

Elogiar não é fácil.

Se raramente verbalizamos esta ideia, com ela convivemos de forma subterrânea, debaixo da pele.

Afinal, na esfera da nossa vida quotidiana, com que frequência tecemos um elogio?

E em que tipo de argumentos poderá radicar este constrangimento, tanto mais que a verbalização axiológica contrária, a crítica depreciativa, se nos solta com uma facilidade confrangedora?

Muitas são as reflexões publicadas sobre a resistência em receber elogios; menos aquelas que ponderam sobre a dificuldade em produzi-los; ínfimas as que se pronunciam sobre como compô-los.

Foi na sua Retórica – o tratado que, no século IV a.C., Aristóteles consagrou ao tema da persuasão – que se procedeu, pela primeira vez, à definição e caracterização do louvor (variante estruturada e amplificada do elogio), como discurso autónomo e como uma concretização possível do género oratório identificado como demonstrativo ou epidíctico, designação que, etimologicamente, remete para a noção de exibição ou ostentação. Apesar de esse género lhe ter merecido menos atenção e desenvolvimento que os outros dois géneros oratórios – o forense e o deliberativo –, diretamente vinculados à sua aplicação pública no contexto judicial e político, essa classificação inaugurou uma longa e complexa tradição teórica sobre o louvor e a censura e abriu caminho, nos séculos seguintes, à produção de tratados inteiramente consagrados ao género epidíctico e ainda à sua integração em propostas didáticas que ecoaram, com variantes, ao longo da história.

Como um guia, as pautas veiculadas pelos tratadistas forneciam modelos e princípios gerais de composição para aqueles que pretendiam enaltecer alguém ou algo que lhes parecia digno de valor, ou por outras palavras, indicavam lugares por onde os compositores do discurso poderiam passar tendo em vista o fim laudatório da sua intervenção. Ainda hoje, continua a ser-nos útil poder associar o nosso discurso a um percurso que implique a passagem por um conjunto de lugares pré-definidos:

  1. A origem da pessoa a louvar (espaço, época de nascimento e família)
  2. A sua formação (educação formal e informal)
  3. Os seus feitos e concretizações (por ordem cronológica ou de importância)
  4. Comparação com uma figura consensual; 5) apelo a que a grandiosidade do louvado possa ser reconhecida, recordada e servir de exemplo para os destinatários do louvor.

A adaptação livre deste esquema mental à especificidade do louvado garante, pois, um elogio estruturado e sustentado, capaz de demonstrar o seu valor à audiência. Se, complementarmente, o autor do elogio souber associar à habilidade da composição outras competências elocutivas que capazes de ainda mais enaltecer o objeto da sua atenção, também ele, à sombra do louvor e do louvado, brilhará. Em simultâneo, a aceitação e a integração do elogio na comunidade, mais ou menos alargada, contribuirá tacitamente para o reforço dos valores nele implicados, bem como da ordem social em que o mesmo se enquadra.

Sara Rodrigues de Sousa

Provedora do Estudante